terça-feira, 27 de novembro de 2018

Yonseis no Brasil expressam revolta com as exigências para obter visto no Japão

Jornal Asahi conversou com descendentes de quarta geração em São Paulo
visto de quarta geração

Em março deste ano, o Japão iniciou os procedimentos para conceder vistos aos descendentes de quarta geração, atendendo a um desejo antigo na comunidade e gerando expectativas em muitos jovens no Brasil, que almejavam uma oportunidade de viver no país dos bisavôs ou bisavós.

O governo esperava receber cerca de 4 mil “yonseis” por ano, mas as exigências, que incluem limite de idade, conhecimento de japonês e impossibilidade de trazer a família, acabou com o sonho de muitos que ansiavam pela oportunidade.

Até meados de outubro, o governo havia concedido vistos de quarta geração para apenas duas pessoas no Brasil. A questão não foi apenas a baixa concessão, mas também o fato de o governo ter recebido poucas solicitações, já que poucas pessoas conseguiram cumprir todas as exigências.

Uma reportagem do jornal Asahi conversou com yonseis em São Paulo para entender as dificuldades e ouviu queixas e revoltas com relação as condições impostas, exigências que nunca foram cobradas dos descendentes de segunda ou terceira geração, que passaram a vir ao país no fim da década de 1980.

A brasileira de 4° geração, Harumi Togawa, de 26 anos e que reside em Peruíbe, no interior de São Paulo, contou ao jornal que foi convidada para um grupo de mais de 100 yonseis na região, organizado pelo aplicativo de mensagens Whatsapp.

“Não há um yonsei na região que esteja estudando japonês, ou seja, não tem uma pessoa por aqui apta a solicitar este visto”, lamentou.

A proposta de visto lançada pelo governo tem prazo máximo de 5 anos e permite ao yonsei trabalhar livremente no país, através de uma autorização de “atividade especial”.

Além de cumprir as necessidades de mão de obra no país, o visto também tem como objetivo conceder a oportunidade de aprender japonês e conhecer a cultura do Japão, mas exigências como a proficiência do idioma em nível básico, colocou obstáculos para aqueles que estavam interessados na solicitação.

Outro obstáculo para a obtenção do visto foi a impossibilidade de levar a família. Togawa, que veio ao Japão com os pais quando era adolescente e chegou a cursar o koukou (ensino médio) no país, voltou ao Brasil após a crise de 2008.

A brasileira, que consegue se comunicar em japonês, possui uma filha de dois anos e disse que gostaria de voltar ao Japão, educar a filha no país e trabalhar, mas não pode solicitar o visto por não ser permitido levar a família junto.

Sua tia, Kelly Hokama, de 38 anos e que também é yonsei, expressou o desejo de trabalhar no Japão pelos filhos e a indignação com o visto. “Um decasségui é uma pessoa que possui uma família para sustentar. É absurdo que só aceitem o yonsei que esteja disposto a viver longe da família”, comentou ao jornal.

Para Kelly, não levar a família não foi a única exigência que não pôde cumprir, mas também a idade. O visto de yonsei pode ser concedido apenas para pessoas de 18 a 30 anos.

Yoshiki Watanabe, de 24 anos e que trabalha em uma empreiteira na cidade de São Paulo, contou sobre a decepção de muitos descendentes na região. “Recebemos muitas consultas sobre este visto novo, mas até agora não houve nenhuma inscrição”, lamentou.

Watanabe também é de quarta geração e morou no Japão com os pais entre os 10 e 14 anos, mas voltou ao Brasil como consequência da crise de 2008. Apesar de ter o nível 1 da proficiência em japonês e utilizar o idioma com frequência no trabalho, a brasileira confessa que também não poderia solicitar o visto com as exigências atuais.

“Meu sentimento é de estar sendo vigiada. É como se o governo japonês estivesse jogando na nossa cara. ‘Vocês queriam o visto, não é mesmo?’”, desabafou.
Fonte: Alternativa
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